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A pílula do depois de amanhã

Por: Fernanda Deutsch Plotzky

Recentemente, foi lançada na França pelo laboratório HRA Pharma uma versão mais duradoura da "pílula do dia seguinte". Como o nome comercial de ellaOne (princípio ativo: ulipristal), o medicamento pode ser ingerido até cinco dias depois do sexo sem proteção, dois a mais do que a versão tradicional desse tipo de pílula. O medicamento ainda está em análise na FDA, a “Food and Drug Admnistration”, agência americana de controle de medicamentos e não há previsão, até o momento, de seu lançamento no Brasil.

Deve-se ressaltar que a eficácia do medicamento reduz progressivamente conforme o passar dos dias. Se for ingerida até 72 horas após a relação desprotegida, sua eficácia é semelhante à da “pílula do dia seguinte”, ou seja, cerca de 85%. Caso o medicamento seja utilizado no 4º ou 5º dia após a relação, sua eficácia gira em torno de 61%. Portanto, quanto mais cedo se fizer uso da medicação, maiores serão as chances de se evitar uma gravidez indesejada.
É indiscutível que o avanço desses métodos representa uma grande conquista para as mulheres diante de falhas dos métodos anticoncepcionais tradicionais ou de uma eventual relação sexual sem proteção. No entanto, é fundamental dizer que nenhum desses métodos deve ser adotado como método anticoncepcional de rotina. A contracepção de emergência, outro nome para a “pílula do dia seguinte” e da “pílula do depois de amanhã” deve ser utilizada apenas situações extraordinárias. Não há necessidade de se utilizar esse método caso a paciente já esteja tomando algum outro tipo de anticoncepcional, como pílulas, injetáveis, adesivos ou anel vaginal.

O mecanismo de ação da “pílula do depois de amanhã” é diretamente sobre a progesterona (do latim, a favor da gestação), inibindo a sua atuação. Na dosagem disponível, o ellaOne evita ou retarda a ovulação. A ação das "pílulas do dia seguinte" atuam sobre o LH (hormônio luteinizante), responsável por desencadear a ovulação. Outro mecanismo de ação é tornar o ambiente uterino hostil ao espermatozóide, impedindo a fertilização quanto já tiver ocorrido a ovulação. As pílulas podem ainda diminuir o ritmo dos movimentos das tubas uterinas, que “empurram” o espermatozoide em direção ao óvulo. Portanto, o ellaOne pode ser usado em qualquer fase do ciclo menstrual, desde que a paciente não esteja grávida previamente.

Esse tipo de lançamento sempre gera polêmica e atuação de grupos anti-aborto, que acredita no poder abortivo da medicação. Um documento de orientação aos médicos brasileiros do Ministério da Saúde é categórico: "Não existe nenhuma sustentação científica para afirmar que a AE (anticoncepção de emergência) seja método que resulte em aborto, nem mesmo em porcentual pequeno de casos".

Os efeitos colaterais da contracepção de emergência são: sensibilidade mamária (dor nas mamas), enjoo, vômitos, diarréia, dor de cabeça, irritabilidade. Esses efeitos se devem, em grande parte, à alta concentração de hormônios contidas em sua fórmula. Além disso, pode ocorrer alteração do ciclo menstrual (a menstruação pode adiantar ou atrasar). Após o uso de ellaOne, aproximadamente 6% das mulheres tiveram um ciclo mais curto, com a menstruação adiantando mais de uma semana, 20% tiveram atraso de mais de 7 dias e 5% um atraso superior a 20 dias. Como a eficácia da medicação não é garantida, se houver atraso menstrual maior do que 7 dias ou sangramento anormal durante a menstruação, deve-se excluir uma possível gestação através de um teste de gravidez. Assim como em todas as gestações, caso a paciente engravide após o uso da “pílula do depois de amanhã”, deve-se excluir gestação ectópica (quando ocorre a implantação fora do útero).

Algumas outras informações úteis a respeito dessa medicação:
- se a paciente vomitar até 3 horas após do uso do ellaOne, a mesma deve tomar mais um comprimido.
- a segurança e eficácia da pílula em pacientes menores do que 18 anos não foi testada.
- não se deve combinar a “pílula do depois de amanhã” com a “pílula do dia seguinte” (contendo levonorgestrel). Apenas uma, se houver indicação, deve ser utilizada.
- o uso repetido do ellaOne no mesmo ciclo menstrual não é recomendado. Os efeitos não foram investigados.
- a medicação não deve ser utilizada em pacientes com insuficiência hepática grave ou asma grave descompensada em uso de corticóides.
- Algumas medicações podem diminuir a eficácia da pílula, entre elas: rifampicina, fenitoína, fenobarbital, carbamazepina, ritonavir, Hypericum perforatum.

O custo na Europa atualmente da pílula do depois de amanhã é de 33,10 euros, o correspondente a cerca de 85 reais. Não há estimativas do preço que custará no Brasil. A pílula do dia seguinte custa atualmente por volta de 20 reais.