Menstruar ou não menstruar: eis a questão

Por: Fernanda Deutsch Plotzky

Prezada Paciente e Amiga,
 
Esse informativo tem por finalidade esclarecer dúvidas e questões pertinentes à saúde feminina. Ele não deve, de forma alguma, substituir a consulta ginecológica ou guiar mudanças de conduta. No entanto, como serve para o esclarecimento de assuntos ginecológicos e obstétricos em geral, sintam-se à vontade para entrar em contato com suas dúvidas relativas a esse ou outro assunto de interesse, que terei o maior prazer em respondê-las da melhor forma possível.
 
Esse mês, vamos discutir um pouco sobre a interrupção da menstruação por longos períodos de tempo, porque essa seria a opção de uma em cada três mulheres em idade reprodutiva. Essa foi a conclusão de um estudo encabeçado pelo laboratório Schering com 3400 mulheres entre 16 e 49 anos em vários países, inclusive no Brasil. A suspensão da menstruação em adolescentes abaixo dos 16 anos ou que menstruem há menos de 2 anos não é aconselhável.
 
As mulheres da geração atual têm um poder que as de gerações anteriores não tinham: escolher entre menstruar ou não. Algumas mulheres não têm o menor problema com o ciclo menstrual, sentindo-se mais femininas com a menstruação. Já muitas outras sofrem com esse período. No entanto, esse grupo ainda tem algum receio sobre a suspensão da menstruação.
 
Neste ano, a pílula anticoncepcional completa 50 anos de existência. Se formos parar para pensar na revolução que aconteceu na vida das mulheres no último meio século, a opção de não menstruar se encaixa com o estilo de vida moderno. A tripla jornada de trabalho (profissional, dona de casa e mãe), associada à correria do dia a dia, muitas vezes é incompatível com a preocupação de menstruar, com a tensão pré-menstrual, com cólicas, com sangramentos em momentos inesperados. Quem não deseja o fim dos sintomas típicos de TPM, como mau humor, inchaço, dor de cabeça, labilidade emocional? Uma das formas de se evitar o fluxo menstrual é justamente através da pílula anticoncepcional, inventada por Gregory Pincus em 1960, usada sem pausas ou com pausas a cada 3 meses. Outra alternativa são os anticoncepcional apenas de progesterona, como as pílulas de desogestrel, os implantes subdérmicos e os DIUs liberadores de hormônio.
Vale lembrar que nenhum dos medicamentos utilizados para cessar a menstruação é 100% eficaz. O chamado spotting, que são perdas sanguíneas irregulares e imprevisíveis, a cada dois ou três meses, acontecem em cerca de 35% dos casos das pacientes em uso de anticoncepcional continuamente.
 
Alguns conceitos que merecem ser desmistificados:
 
1. Não há nenhuma evidência científica de que a suspensão da menstruação reduza a taxa de fertilidade da mulher. Estudos demonstraram que a taxa de retorno à fertilidade é comparável às mulheres que utilizam pílula da forma tradicional.
 
2. Seu uso (tradicional ou sem pausas) não provoca câncer de ovário. Inclusive, pode diminuir a incidência desse e de outros tipos de câncer, como o de endométrio. Também promove controle de doenças como endometriose e diminui as taxas de anemia.
 
3. A interrupção regular da pílula não tem função de eliminar impurezas por meio da menstruação. Não existe “acúmulo” de detritos nesse período.
 
4. Não é necessário um tempo para desintoxicação do hormônio da pílula. A medicação é metabolizada e deixa de circular no organismo em até 48 horas da ingestão.
 
5. Após a suspensão da medicação, as cólicas e TPM não se tornam mais intensas. O organismo apenas volta a funcionar da mesma forma que funcionava antes da pílula.
 
Vale lembrar que a opção por menstruar ou não deve ser sempre individual. O ideal é que caso sua escolha seja não menstruar, isso seja discutido com seu ginecologista para que mais dúvidas sejam esclarecidas e possam, juntos, escolher o melhor método. Se você se sente segura menstruando todo mês, sem incômodo com cólica ou TPM, ótimo! A Medicina está à disposição para ajudar a tornar o nosso dia a dia mais leve, levando em consideração sua saúde física e mental.